Informativo JDL n. 39 | Mai-Jun 2025
Olá, sejam muito bem-vindas, bem-vindos e bem-vindes ao Informativo JDL desse mês!
Essa é a edição de maio e junho da newsletter do grupo de pesquisa Jornalismo, Direito e Liberdade, vinculado à Escola de Comunicações e Artes da USP e ao Instituto de Estudos Avançados da USP. Aqui você encontra um balanço das nossas atividades, publicações do grupo nos últimos meses, além de eventos, oportunidades acadêmicas e dicas culturais ligadas aos nossos temas de pesquisa. Boa leitura!
Estamos falando sobre…
Tributação das Big Techs e Desafios para a Sustentabilidade do Jornalismo
A predominância das plataformas digitais na formação das esferas públicas digitalizadas traz grandes desafios para a sustentabilidade do jornalismo de interesse público. Pelo fato de se estruturarem num modelo de negócios semelhante ao das mídias tradicionais - o financiamento via venda de espaços de publicidade -, porém com muito mais precisão a partir da manipulação de dados pessoais e estratégias de marketing digital, há tanto uma sucção dos recursos de anunciantes, quanto uma competição feita com conteúdos não produzidos pelos profissionais da “esfera pública editada”, como diz Habermas na obra “Nova Mudança Estrutural da Esfera Pública e a Política Deliberativa” (Unesp, 2023). O mesmo Habermas, ao atentar para o fato de que essa plataformização das esferas públicas ocorre em espaços pouco ou nada regulamentados, revela uma situação estrutural de desigualdade e desequilíbrio midiático. Uma dessas desigualdades é a ausência de tributação para a exploração dos serviços oferecidos por plataformas digitais, diferentemente do que ocorre com outros sistemas de mídia, independente dos setores da comunicação ou mesmo da cultura.
Para sanar essa desigualdade estrutural no campo do jornalismo, diversos atores nacionais e internacionais têm se mobilizado para propor modelos de regulação e tributação das Big Techs como forma de financiar o jornalismo de interesse público num primeiro momento, mas também como meio para garantia dos direitos à informação de qualidade e a esferas públicas democráticas. Essas mobilizações se apresentam em meio a grandes disputas políticas, legislativas e judiciais.
Para discutir essas iniciativas e os desafios para o campo jornalístico, realizaremos o seminário “Tributação das Big Techs e desafios para a Sustentabilidade do Jornalismo”, no próximo dia 25 de junho, das 14h00 às 16h30, na Escola de Comunicações e Artes da USP (sala a ser definida). Nossos convidados são a pesquisadora Ester Borges, mestra em Ciência Política pela FFLCH-USP e head of program da Momentum Journalism & Tech Task Force, organização internacional de pesquisa e defesa do jornalismo que está lançando o relatório “Tributação das Big Techs e Jornalismo: Caminhos para o Brasil”, e Thiago Tanji, presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo e secretário adjunto de Mobilização, Negociação Salarial e Direito Autoral da FENAJ. O evento é público e gratuito, e a discussão será mediada pela jornalista e doutoranda do PPGCom da ECA-USP Liz Nóbrega. Mais informações em breve em nosso site.
Atividades de maio
1º Congresso Internacional de Emissoras Públicas
Profissionais, pesquisadores e acadêmicos discutiram questões emergentes do serviço público de comunicação no Brasil e no mundo durante o 1º Congresso Internacional de Emissoras Públicas.
O evento foi realizado nos dias 21 e 22 de maio na USP, com organização da Superintendência de Comunicação Social e coordenação acadêmica do professor Eugênio Bucci, membro fundador do JDL, e recebeu apoio da TV Cultura e da Rede de Rádios Universitárias do Brasil (Rubra). O Congresso contou com cinco painéis e dois colóquios, nos quais representantes de emissoras públicas, pesquisadores e acadêmicos de 12 países, incluindo o Brasil, discutiram temas como financiamento, desafios da comunicação digital e da inteligência artificial, relações com públicos e audiências, combate à desinformação e promoção da democracia.
No período noturno de cada dia, cinco diferentes grupos de trabalho tiveram sessões de apresentações e compartilhamento de pesquisas e experiências na ECA-USP. Destacamos as apresentações de trabalhos de pesquisadores do JDL no evento:
Gislene Nogueira Lima, doutoranda do PPGCom da ECA-USP e atualmente pesquisadora visitante na American University, uma das líderes na organização do Congresso, apresentou o trabalho “A contradição brasileira na adoção do modelo de radiodifusão dos EUA: hegemonia comercial e ausência de um sistema público independente”, na sessão 2 do GT 1 “Comunicação Pública: estratégias para enfrentar a desinformação, manter a independência editorial e promover a cultura democrática: radiodifusão pública e TVs universitárias”.
José Agnaldo Montesso Júnior, doutorando do PPGCom da ECA-USP, apresentou o trabalho “Entre a transparência e a autopromoção: o uso de plataformas de mídias sociais durante o período de mandato”, na sessão 3 do GT 1.
Helton Lucinda Ribeiro, doutorando do PPGCom da ECA-USP, apresentou o trabalho “Rádio universitário e esfera pública: proposta de uma agenda de pesquisa sobre a programação musical”, no GT 5 “Arte ou Entretenimento? Como veicular informação cultural além dos parâmetros consagrados no mercado das emissoras comerciais”.
O evento favoreceu a formação de novas redes de apoio mútuo entre emissoras públicas nacionais e estrangeiras, de modo a garantir os princípios da comunicação pública e promover as instituições e a cultura democrática. Confiram os vídeos dos painéis do evento.
Membro do JDL é eleito vice-coordenador de GT da IAMCR
O pesquisador Ben Hur Demeneck foi eleito vice-chair de um dos grupos de trabalho da IAMCR (International Association for Media and Communication Research) — associação internacional fundada em 1957 com apoio da UNESCO, que hoje reúne pesquisadores de Comunicação e Mídia de mais de 100 países.
O período de votação se encerrou em 21 de maio, renovando as lideranças de 13 seções e grupos de trabalho da IAMCR. Para o grupo ETH-WG (Ethics of Society and Ethics of Communication Working Group), foram eleitos como vice-chairs Ben Hur Demeneck e Marta Martín Llaguno (Universidade de Alicante, Espanha). A coordenação geral ficará a cargo de Yanick Farmer (Université du Québec à Montréal, Canadá).
Os mandatos têm vigência até 2029, e a nova equipe assumirá oficialmente durante a Conferência Anual da IAMCR, que será realizada de 13 a 17 de julho de 2025, em Singapura, na Wee Kim Wee School of Communication and Information, da Universidade Tecnológica de Nanyang.
Ben Hur Demeneck integra o JDL/IEA-USP desde sua criação, em 2015. Escreveu tese de doutorado sobre jornalismo transnacional (ECA-USP, 2016), orientada pelo professor Eugênio Bucci, e é um dos autores do Dossiê da Revista Estudos Avançados sobre Desinformação e Democracia, publicado neste ano pelo Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA/USP).
Vem aí…
Lançamento de novos livros de Eugênio Bucci
Eugênio Bucci, professor titular da ECA-USP e pesquisador do JDL lançará dois livros neste mês de junho. O primeiro é intitulado “Que não se repita. A Quase morte da Democracia Brasileira” (Martins Fontes, R$66,90). Neste ensaio, Bucci nos alerta para as ameaças sofridas pela democracia brasileira durante o governo Bolsonaro, desde a politização da pandemia de covid-19 até a tentativa de golpe de Estado, passando pelo cotidiano de violência contra instituições democráticas e grupos sociais que buscam o reconhecimento de seus direitos pela sociedade brasileira. Esta obra será lançada no próximo dia 23 de junho, na Livraria da Travessa Pinheiros (R. dos Pinheiros, 513, São Paulo), quando o autor conversará com o editor Cadão Volpato a respeito da obra.
O segundo é intitulado “A Razão Desumana” (Autêntica, R$59,80), em que Bucci apresenta em sete ensaios críticos uma discussão sobre um tipo de racionalidade que, constituída pela automação, a linguagem técnica e o capital, produz efeitos desumanizadores sobre diversas áreas da sociedade, como os meios de comunicação, a economia e a política. Os textos tratam da formação ideológica dessa racionalidade a partir de diversos casos históricos, da pandemia de Covid-19 e as campanhas de desinformação, a emergência das inteligências artificiais e o papel do jornalismo e do pensamento crítico nesse cenário.
Na academia e na imprensa
Publicações de pesquisadoras e pesquisadores do JDL
O coordenador do JDL e professor titular da ECA-USP, Eugênio Bucci, foi um dos entrevistados para a matéria produzida em comemoração aos 35 anos da Agência Brasil. Ao assumir a presidência da Radiobrás em 2003, uma das ações de Bucci foi fazer com que a agência passasse a fornecer informações voltadas ao cidadão para serem reproduzidas gratuitamente nos veículos de comunicação do país.
Giovanni Francischelli, pesquisador associado ao JDL e doutorando em Media Studies na University of Oregon (EUA), publicou uma resenha do livro The End of Reality, de Jonathan Taplin, na revista Critical Studies in Media Communication. A obra analisa como bilionários do Vale do Silício, como Elon Musk e Mark Zuckerberg, promovem visões escapistas do futuro, baseadas em metaverso, criptomoedas e transumanismo. Na resenha, Francischelli contrapõe essas utopias tecnológicas à negligência diante de crises reais como a fome, a emergência climática e a desigualdade social.
O programa Universo das Emissoras Públicas, veiculado pela Rádio USP, aborda a NHK, Nippon Hoso Kyokai, organização de serviço público de radiodifusão do Japão. A edição, conduzida pela doutoranda Gislene Nogueira e pela apresentadora Verônica Poli, conta com uma entrevista com o brasileiro Renato Brandão, que atua como tradutor e locutor da NHK World. O combate à desinformação é uma marca da organização pública japonesa desde a fundação, em 1926.
A pesquisadora do JDL, Januária Alves, traz reflexões sobre como podemos auxiliar as crianças a exercerem seus direitos na era digital, conscientizando-as dos riscos e das oportunidades que ali existem. No artigo “As crianças e as redes: uma luta entre Davi e Golias”, publicado no Nexo Jornal, a pesquisadora do JDL entrevista Sonia Livingstone, considerada uma das maiores especialistas no mundo neste tema.
Luciana Moherdaui escreveu no Poder 360 sobre a retomada do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal da inconstitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da internet. A pesquisadora do JDL aponta que o tema é centro de uma disputa política, que levou às discussões sobre a regulação das plataformas digitais a uma batalha entre liberdade de expressão versus censura.
A revista Contracampo, da Universidade Federal Fluminense, publicou o artigo Campanha permanente nas plataformas de mídia social: análise do perfil do governador Romeu Zema no TikTok. O texto é de autoria do doutorando Agnaldo Montesso em parceria com o Prof. Dr. Luiz Ademir de Oliveira da Universidade Federal de São João del-Rei. A publicação analisa como o governador de Minas Gerais utilizou a plataforma de mídia social para comunicação com a sociedade e manter uma imagem pública favorável.
Novidades
Leituras de referência indicadas pelo JDL
O recém-lançado ebook gratuito “Deixe seu like”, organizado por Daniela Zanetti (UFES) e Rafael Cardoso Sampaio (UFPR), reúne pesquisas que analisam a centralidade das plataformas de vídeo — como YouTube, TikTok e Instagram — na comunicação política digital. A coletânea aborda temas como estratégias eleitorais audiovisuais, circulação de desinformação, atuação de influenciadores e a emergência de novas linguagens nas disputas políticas online. Os capítulos exploram desde a estética e os discursos mobilizados em campanhas até os usos políticos da cultura pop e os vínculos entre YouTube e WhatsApp na disseminação de narrativas da extrema-direita. A obra oferece uma contribuição relevante para os estudos sobre mídias digitais e democracia, evidenciando como os vídeos se tornaram dispositivos centrais na reconfiguração do debate público.
A mais recente edição da Revista Lumina (v. 19, n. 1, 2025) traz o dossiê internacional “Desafios da Ciber-Resiliência: Construindo uma Cultura de Segurança Cibernética e Cidadã”, reunindo artigos que abordam os riscos sociais, políticos e técnicos associados à transformação digital e às ameaças cibernéticas. Organizado por pesquisadoras e pesquisadores do Brasil, Colômbia e Eslováquia, o volume propõe reflexões sobre cidadania digital, desinformação, racismo algorítmico, regulação de plataformas, educação midiática e uso político das redes sociais, com contribuições teóricas e empíricas que enfatizam a importância de práticas comunicacionais mais seguras, críticas e inclusivas no ambiente digital.
O InternetLab e a Revista AzMina lançaram, em parceria com o Núcleo Jornalismo e o Laboratório de Humanidades Digitais da UFBA, a terceira edição do MonitorA, observatório dedicado ao monitoramento da violência política online, com apoio do IDRC. A pesquisa de 2024 concentrou-se na análise de comentários em transmissões ao vivo de debates eleitorais no YouTube, revelando a persistência de padrões de violência marcados por gênero, raça e outros marcadores sociais. O relatório discute os desafios de acesso a dados das plataformas e os impactos da Lei de Violência Política contra a Mulher, além de apresentar treze recomendações voltadas a instituições estratégicas, com foco na moderação de conteúdo, acolhimento de vítimas e enfrentamento da violência de gênero nas redes.
Agende-se!
Eventos e oportunidades acadêmicas
Submissão de Trabalhos na Critical Legal Conference 2025
Quer debater o futuro do direito em meio a mudanças aceleradas? A Critical Legal Conference 2025, que será realizada presencialmente na Universidade de Exeter (Reino Unido), convida você a submeter trabalhos para o fluxo “Future Tense: Legal Imagination in Times of Acceleration”.
Este é um espaço para explorar como o direito pode se reinventar diante de crises como IA, automação e colapso climático. Se seu trabalho aborda governança digital, aceleração ou a intersecção especulativa entre direito e tecnologia, sua contribuição pode ser inscrita!
Até dia 1º de agosto. Envie seu resumo por e-mail para kl633@exeter.ac.uk, com o assunto exato: Future Tense: Legal Imagination in Times of Acceleration.
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Doutorado em Inteligência Artificial para Futuros Sustentáveis – UniBg!
A Universidade de Bérgamo (UniBg), na Itália, abriu inscrições para 5 bolsas de doutorado totalmente financiadas em seu programa interdisciplinar de Inteligência Artificial para Futuros Sustentáveis.
Este doutorado visa formar pesquisadores de alto nível, com competências técnicas e socioculturais, capazes de projetar o desenvolvimento da IA com foco na sustentabilidade. Uma chance para quem busca impactar o futuro com tecnologia!
Inscrição até dia 16 de junho, às 11h59 (horário da Itália).
A seleção será por avaliação de qualificações e entrevista online (em inglês), marcada para 9 de julho de 2025.
Como se inscrever: As candidaturas são exclusivamente online, através do site da Universidade de Bérgamo. Siga as instruções detalhadas e envie os documentos solicitados (incluindo CV e proposta de projeto).
Mais informações aqui.
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Chamada para micro-resumos: Livro sobre Estudos de Comunicação
A Universidade da Flórida está recebendo submissões para um volume editado e busca autores para o livro "Estudos de Comunicação em Encruzilhada: Uma Abordagem Multidisciplinar".
Esta é uma oportunidade para refletir sobre a comunicação como disciplina, examinando seu passado, presente e futuros possíveis, com foco em sua natureza interdisciplinar e perspectivas globais. Se você pesquisa mensagens, mídia ou interações sociais, inscreva-se!
Prazo para submissão: 30 de junho.
Envie seu micro-resumo utilizando o formulário online.
O volume tem publicação prevista para 2026.
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Eventos imperdíveis com Shaka McGlotten na Suécia e financiamento de viagem
A Universidade de Linköping, na Suécia, sediará dois eventos emocionantes com o renomado Shaka McGlotten nos dias 18 e 19 de junho.
Oportunidade de financiamento de viagem: Para pesquisadores em início de carreira interessados em participar presencialmente de ambos os eventos, há financiamento disponível (total ou parcial)! Contate datalab@liu.se com seu nome, afiliação, origem da viagem e breve resumo de interesse.
No dia 18 (13h-15h CEST), McGlotten apresenta "Assombrando o Algoritmo", uma palestra sobre IA, folclore e ancestrais (presencial e Zoom).
No dia 19 (14h-16h), participe do "Piquenique de Pesquisa e Adivinhação", uma tarde para explorar desafios de pesquisa com atividades analógicas e lúdicas (apenas presencial, inscrição aqui.
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Chamada de trabalhos para dossiê temático: Plataformização da produção cultural no Brasil
A Revista Famecos convida pesquisadores a submeter artigos para um dossiê temático sobre a Plataformização da Produção Cultural no Brasil.
O dossiê busca explorar como plataformas digitais como YouTube e TikTok reconfiguram a produção cultural no País, abordando as oportunidades e os desafios que emergem dessa dependência assimétrica. Temas como a governança das plataformas, condições de trabalho dos produtores culturais, criatividade, impactos na democracia e reprodução de desigualdades sociais são de grande interesse.
Se sua pesquisa dialoga com a complexa relação entre plataformas e produção cultural no cenário brasileiro, inscreva-se!
Prazo até dia 31 de agosto.
Como submeter: Consulte o site da Revista Famecos para mais detalhes e orientações sobre o envio de artigos.
O dossiê tem lançamento previsto para 2026.
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Evento "Imaginários Sintéticos" na Alemanha e bolsas de viagem
Convidamos você para o evento colaborativo "Imaginários Sintéticos: A Política Cultural da IA Generativa", que ocorrerá na Universidade de Siegen, Alemanha, de 8 a 12 de setembro.
Este evento de cinco dias explorará como a IA generativa e a mídia sintética redefinem a cultura e a tecnologia, e como essas transformações afetam as relações de poder. A programação inclui palestras, workshops práticos e projetos colaborativos com foco em novos métodos de pesquisa.
Candidate-se a bolsas de viagem para cobrir seus custos de participação! Envie uma proposta (máx. 500 palavras) descrevendo seu interesse no tema principal.
Prazo para propostas e bolsas: 20 de junho.
A participação no evento é gratuita!
Mais informações e link para submissão aqui.
Na cabeceira
Dicas de leitura e do que fazer com o controle remoto e outros dispositivos
Livro do mês – 1
A contagem dos sonhos
De: Chimamanda Ngozi Adichie
Ed. Companhia das Letras | São Paulo | 2025
R$ 64,40| e-book R$ 27,90
Convidada para o evento Fronteiras do Pensamento – já com todos os ingressos esgotados – a escritora nigeriana Chimamanda Kgozi Adichie vem ao Brasil também para lançar seu mais novo romance depois de mais de uma década de jejum da escrita do antecessor: “A contagem dos sonhos”. O anterior, “Americanah”, publicado em 2013, transformou-a em um sucesso mundial, com mais de dois milhões de cópias vendidas. E esse promete repetir a façanha, pois, apenas dois dias depois da chegada às livrarias americanas, já estava entre as obras finalistas do Womens’s prize. E por que Chimamanda tornou-se uma voz tão potente na literatura contemporânea?
“Os romances nunca são, na verdade, sobre o que são. Pelo menos não para esta autora. A Contagem dos sonhos é, sim, sobre os desejos interligados de quatro mulheres, mas, de uma maneira profundamente pessoal e não óbvia para o leitor – ao menos não de imediato –, é, na verdade, sobre minha mãe”, escreve, no final do livro em uma Nota da autora. Ngozi encanta por meio desse olhar sensível e arguto para questões raciais, para o feminismo, a realidade dos imigrantes, o amor e a resistência aos diversos tipos de opressão. Chimamanda valoriza as histórias como forma de resiliência e as razões que ela coloca para acreditar na potência das narrativas estão brilhantemente colocadas em um TED Talk, de 2009, que viralizou no mundo inteiro (o texto foi transformado em um pequeno livro com o mesmo título da conferência “O perigo de uma única história” também publicado pela Companhia das Letras).
Contagem dos sonhos é, para a autora, o primeiro livro “em que ressalta as conexões entre mulheres”, e portanto, pode ser lido como uma obra que discute uma das grandes questões do nosso tempo: a dificuldade de estabelecermos conexões profundas e verdadeiras, de nos comunicarmos em um mundo com tantas diferenças, sejam elas culturais, econômicas ou sociais. Ao colocar os nossos sonhos como tema central na pele de quatro mulheres, Chimamanda tenta nos humanizar através de sua ficção, como ela mesma revela em sua Nota. Uma leitura necessária para o nosso tempo.
Vídeos do mês
Livre para Menstruar
Documentário da da Girl Up Brasil e Maranha Filmes
Em 28 de maio celebra-se o Dia Internacional da Higiene Menstrual também conhecido como Dia Internacional da Dignidade Menstrual, cujo objetivo é conscientizar e sensibilizar as pessoas sobre a importância da saúde e higiene menstrual, buscando quebrar tabus e estigmas relacionados à menstruação. Uma questão que nem sempre recebe a atenção merecida, mas sabemos que a chamada pobreza menstrual tem um impacto considerável na vida de milhares de garotas ao redor do mundo. Segundo o relatório Livre Para Menstruar, pobreza menstrual e a educação de meninas, realizado pela ong Girl Up Brasil e disponível na plataforma Livre para Menstruar, milhões de brasileiras enfrentam obstáculos diários para menstruar com segurança, saúde e dignidade. O estudo estima que mais de 1,5 milhão de mulheres não tenham banheiro em casa. Meninas que menstruam em idade escolar — cerca de 7,5 milhões — convivem com escolas sem estrutura mínima, sem produtos de higiene e sem acesso à informação. Mulheres entre os 5% mais pobres do país precisam trabalhar até quatro anos apenas para custear absorventes ao longo da vida.
Esta é a questão central do documentário Livre para menstruar, realizado pela Girl Up Brasil em parceria com a Maranha Filmes, que retrata o maior movimento de meninas por direitos já registrado no Brasil, uma mobilização que resultou em mais de 50 projetos de lei protocolados sobre dignidade menstrual, com impactos concretos nas políticas públicas de diversos estados e municípios. O filme retrata a trajetória de adolescentes organizadas em clubes promovidos pela Girl Up Brasil que, ao longo de anos, transformaram a indignação com a pobreza menstrual em uma ação que levou à busca pela consolidação da política nacional que garante, não apenas a distribuição gratuita de absorventes, mas um verdadeiro enfrentamento aos desafios do que significa menstruar no Brasil.
“Esse filme é uma convocação. Não dá para deixar essa história só nos relatórios. O que nós, meninas, fizemos é histórico — e precisa continuar”, afirma Rebeca Souza, líder Girl Up de Aracaju e uma das protagonistas do documentário. “O filme é resultado das conquistas das meninas na luta por dignidade menstrual, mas é, acima de tudo, uma inspiração pela força que a organização dessas meninas gera”, afirma Daniela Costa, gerente de redes e advocacy da Girl Up. “Esperamos que o filme se torne também uma ferramenta para que mais meninas em todo Brasil saibam que ocupar espaços de participação é um direito de todos, e não apenas de alguns.” Uma obra inspiradora que mostra, na prática, como a juventude tem se articulado na defesa de pautas prioritárias para os segmentos mais vulneráveis do país.
Livro do mês – 2
Tecnofeudalismo: o que matou o capitalismo
De: Yanis Varoufakis
Ed. Planetado Brasil| São Paulo | 2025
R$ 60,86 | e-book: R$ 53,39
O capitalismo está morto. Bem-vindo ao tecnofeudalismo.
Esta é a premissa de Yanis Varoufakis, economista e político grego, ex-ministro das Finanças do Governo e ex-membro do partido SYRIZA, neste livro recém-lançado aqui no Brasil, depois de uma trajetória de sucesso no exterior. Autor de diversos best-sellers, nesta obra, bastante polêmica entre os marxistas (ainda que o autor se declare um deles) trata de como o capitalismo foi morto pelo próprio capital. Ele se junta a um coro de observadores que argumentam que a balança se inclinou na direção de uma nova forma de feudalismo que despoja o capitalismo de suas melhores características. Varoufakis afirma que os mercados teriam sido substituídos por plataformas de comércio digital que, na prática, operam como os antigos feudos. Os usuários digitais se tornariam “servos”, enquanto os detentores do capital tradicional (maquinário, redes telefônicas, robôs industriais) se limitariam ao papel de “vassalos”. E o lucro, motor do capitalismo, teria sido substituído por seu antecessor feudal: a renda.
“Nos últimos 20 mil anos, houve muitas inovações tecnológicas, mas com o capital sempre se mantendo como um meio de produção. Com o surgimento de big techs e dos algoritmos que ‘vivem’ em nossos celulares, o capital agora modifica nosso comportamento. Essa mutação transformou o capitalismo em outro modo de produção socioeconômico”, disparou Varoufakis em uma entrevista. “O capital da nuvem não é como robôs industriais ou sistemas telefônicos. Não é como redes elétricas. Ele não está lá para produzir, mas para modificar seu comportamento. É uma nova forma de capital, é um meio produzido de modificação de comportamentos”, finaliza.
Há quem concorde ou discorde dele, mas sua obra tem o mérito de chacoalhar o leitor a revisitar seus conceitos sobre o capitalismo (e sobre feudalismo) promovendo uma reflexão inquietante sobre qual é o papel das tecnologias em relação ao que nós, seres humanos, queremos e precisamos. Se somos servos das Big Techs, pois elas moldam nossos desejos e modos de ser e estar neste mundo, que papel nos cabe neste latifúndio?
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