Informativo JDL n. 38 | Abr-Mai 2025
Olá, sejam muito bem-vindas, bem-vindos e bem-vindes ao Informativo JDL desse mês!
Essa é a edição de abril e maio da newsletter do grupo de pesquisa Jornalismo, Direito e Liberdade, vinculado à Escola de Comunicações e Artes da USP e ao Instituto de Estudos Avançados da USP. Aqui você encontra um balanço das nossas atividades, publicações do grupo nos últimos meses, além de eventos, oportunidades acadêmicas e dicas culturais ligadas aos nossos temas de pesquisa. Boa leitura!
Estamos falando sobre…
A comunicação pública sob ataque
O segundo governo de Donald Trump nos EUA marca uma nova fase na formação de uma ordem desinformativa. Ao invés de apenas se apoiar na fragmentação dos canais de comunicação pública e na emergência da desinformação para atacar a imprensa, como fez no primeiro governo, passou a atuar diretamente contra outras instituições fundamentais para as democracias, como as universidades e as emissoras públicas, cortando seus financiamentos e censurando suas atividades a serviço de uma pretensa limpeza ideológica. Instituições de saúde, educação e cultura também passam por processos semelhantes desde o primeiro governo. A bem da verdade, há um ataque contra as o próprio sentido de interesse público e de políticas sociais e de reconhecimento, construídas e cristalizadas como resistências à hegemonia do neoliberalismo nos últimos quarenta anos de redemocratização na América Latina e no Leste Europeu.
É nesse cenário que a Universidade de São Paulo sedia nos dias 21 e 22 de maio de 2025 o 1º Congresso Internacional de Emissoras Públicas, que tem por objetivos diagnosticar o lugar das emissoras públicas no ecossistema midiático e formar redes internacionais de resistência às corrosões do interesse público e da democracia provocados pelas novas tendências das grandes plataformas e governos. Com organização da Superintendência de Comunicação Social da USP, liderada pelo professor Eugênio Bucci, o Congresso terá a participação das principais emissoras públicas do mundo, como a ARD da Alemanha, a BBC da Inglaterra, a NPR e a PBS dos EUA, a Television Nacional do Chile e a Televisão Pública de Angola. Pesquisadores do JDL estão presentes tanto na organização quanto na apresentação de trabalhos. O evento ocorrerá na Biblioteca Brasiliana e no Instituto de Estudos Avançados da USP, e a inscrição é gratuita. Mais informações e inscrições no site do congresso.
Atividades de abril
Defesa de tese de doutorado sobre Fãs de Resistência e crítica da indústria cultural
A pesquisadora do JDL Aianne Amado defendeu no último dia 30 de abril a tese de doutorado intitulada “Cultura Pop de Resistência: potências críticas ao imperialismo cultural a partir de ídolos e fãs brasileiros”. A tese realiza uma original articulação entre a economia política da cultura e estudos de fãs para analisar o projeto Baiana System, marcado pelas letras de contracultura, a crítica decolonial e show e engajamento que fogem das atitudes dos fãs mais tradicionais de cultura pop.
Eugênio Bucci no Programa do Bial
O professor Eugênio Bucci participou junto a Marcelo Tas do último programa Convesa com Bial. O programa teve como motes os 60 anos da Rede Globo de Televisão, e os caminhos da televisão brasileira. O programa foi ao ar também no dia 30 de abril, às 23:30 no canal GNT e pode ser acessado no site da Globoplay.
Na academia e na imprensa
Publicações de pesquisadoras e pesquisadores do JDL
A pesquisadora do JDL, jornalista e educomunicadora Januária Alves desenvolveu o curso online e gratuito “Educação Midiática: Para Ler e Entender o Mundo”, recém-lançado pela Fundação Santillana, que reúne sua ampla experiência no campo da educação e da comunicação para oferecer uma formação crítica e transformadora. A doutoranda Lizete Nóbrega, também integrante do JDL, colaborou no processo de pesquisa. Com quatro módulos - que abordam desde a era da desinformação até os desafios atuais da educação midiática -, o curso fornece ferramentas para identificar fake news, interpretar conteúdos com profundidade e desenvolver práticas pedagógicas éticas e responsáveis diante do ecossistema digital.
Magaly Prado escreve no Jornal da USP sobre a homenagem feita à Lucia Santaella, reconhecida por seu pioneirismo na semiótica peirciana e nos estudos sobre cibercultura – dos games, passando pelas redes sociais até a inteligência artificial. A pesquisadora do JDL ressalta a vasta produção acadêmica e intensa atuação de Santaella como professora, orientadora e coordenadora de projetos inovadores, que influencia gerações no Brasil e no exterior, em uma abordagem interdisciplinar voltada ao entendimento das relações entre humano e tecnologia.
Lizete Nóbrega integra a equipe responsável pelo relatório 2024 da pesquisa Desigualdades Informativas, que analisa o acesso e o consumo de informação dos brasileiros. O estudo ganhou destaque no site The Conversation, que ressaltou um dos principais achados: a polarização política e informativa se retroalimentam. Os dados revelam que o consumo de informações políticas nas mídias sociais cresce conforme o espectro ideológico, indo de 35,4% na extrema esquerda a 67,4% na extrema direita.
Luciana Moherdaui escreveu no site Poder360 sobre os cinco anos de tramitação do PL nº 2.630/2020, conhecido como PL das Fake News, sem avanços concretos no Congresso Nacional. No artigo, ela comenta uma fala recente do ministro Edson Fachin, do STF, sobre o chamado “populismo digital autoritário” e argumenta que esse tipo de posicionamento dificulta a construção de consensos políticos para a aprovação da legislação.
Nesse cenário, Januária Alves, discute no Nexo Jornal, a urgência de enfrentar os danos causados pelos crimes virtuais, especialmente entre jovens, e destaca movimentos brasileiros que defendem a regulação das plataformas digitais. Dentre eles está a campanha “Internet legal”, que propõe uma internet mais democrática, segura e inclusiva. O tema ganha força global diante das consequências reais da falta de controle digital.
O pesquisador do JDL Victor Vicente ministrou uma aula no minicurso “Na Palma da Mão: Celulares, Internet e Saúde Mental nas Escolas”, realizado pela Secretaria de Educação de Pernambuco, em parceria com o Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) e com o Centro Global para Saúde Mental de Crianças e Adolescentes do Child Mind Institute. Na aula, Vicente abordou o conceito educação midiática e compartilhou abordagens sobre o tema, além de enfatizar o uso consciente do celular e da internet.
No programa Universo das Emissoras Públicas, da Rádio USP, Gislene Nogueira, aborda o aspecto da legislação brasileira que não diferencia sistemas de radiodifusão público e estatal. O professor Murilo César Ramos, da Universidade de Brasília, foi convidado para tratar sobre o tema. Ele defende a regulamentação do setor e reforça a importância das emissoras públicas como referência informativa.
A Revista Lumina, da Universidade Federal de Juiz de Fora, publicou o artigo Políticos influencers? análise a partir da atuação de prefeitos no TikTok, de autoria de Agnaldo Montesso e da professora da ECA-USP, Carolina Terra. A publicação reflete sobre as estratégias de campanha permanente de quatro prefeitos com maior número de seguidores na plataforma chinesa. Na mesma perspectiva, Montesso analisa em artigo no Observatório da Imprensa a utilização indevida de collabs entre gestores municipais e perfis institucionais no Instagram.
Novidades
Leituras de referência indicadas pelo JDL
O relatório “How People Are Really Using Gen AI in 2025”, publicado pela Harvard Business Review, revela que o uso da inteligência artificial generativa (GenAI) se expandiu significativamente desde o ano passado, quando um estudo similar também foi publicado. A análise identificou seis categorias principais de uso: suporte pessoal e profissional (31%), criação e edição de conteúdo (18%), aprendizado e educação (16%), assistência técnica e resolução de problemas (15%), criatividade e recreação (11%) e pesquisa, análise e tomada de decisão (9%) . O relatório destaca que a geração de ideias - destaque em 2024 - não é mais o uso mais comum da GenAI, sendo substituído por terapia e companhia. Novos casos foram detectados, como “organização da vida” e “encontrar propósito”, usos que são abarcados pela área de suporte pessoal e profissional. A geração de ideias se configura agora na 6ª posição, a lista dos 100 usos mais comuns pode ser acessada aqui.
Em abril a revista EPTIC publicou o dossiê temático Estudos críticos sobre a televisão e suas transformações, refletindo sobre a relevância histórica, cultural e política da televisão, especialmente no contexto brasileiro, que marca os 60 anos da TV Globo. Com base nos aportes da Economia Política da Comunicação, o dossiê analisa desde questões sobre diversidade e acessibilidade na TV até a produção no streaming. A edição também apresenta artigos que discutem alternativas midiáticas, como o crescimento das WebTVs e a história colaborativa da Wikipedia. Um dos artigos publicados na revista é o “Silêncio no estúdio: o movimento sindicalista na indústria audiovisual estadunidense e a greve de 2023”, da pesquisadora do JDL, Aianne Amado.
No início de maio, quando é comemorado o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, a Repórteres Sem Fronteiras publicou o ranking mundial da RSF 2025, que mede o nível de liberdade para os jornalistas em todo o mundo. O Brasil subiu 19 posições desde o ano passado e, no total, 47 posições após o governo Bolsonaro. No entanto, no geral, as condições para o exercício do jornalismo são ruins em metade dos países do mundo. A RSF dá um destaque importante para o fator econômico, pontuando a concentração da propriedade dos meios de comunicação, a pressão de anunciantes ou financiadores e ausência, restrição ou atribuição opaca de auxílios públicos como questões que arrastam para baixo a pontuação geral dos países em 2025, visto que a condição financeira do jornalismo é um dos indicadores que compõem o ranking.
Agende-se!
Eventos e oportunidades acadêmicas
Chamada de Capítulos: Extrema Direita e Desinformação Online
Colegas do Instituto Canadense de Estudos de Extrema Direita (CIFRS) convidam pesquisadores a submeterem capítulos para o livro “Verdades alternativas: O poder de mídias sociais e desinformação no fascismo de extrema direita”. O objetivo é analisar o uso de mídias alternativas e tradicionais pela extrema direita para disseminar desinformação e promover ideologias fascistas. Mais informações aqui. Prazo para envio de resumos: 25 de maio.
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Bolsas de Pós-Doutorado em Berkeley (Escola de Informação)
A Escola de Informação da UC Berkeley está selecionando até quatro pós-doutorandos para auxiliar acadêmicos no desenvolvimento de um programa de pesquisa ativo. Saiba mais aqui.
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Chamada para Artigos: Autoritarismo na Era Digital (Diálogos sobre a Sociedade Digital)
Editores da revista Diálogos sobre a Sociedade Digital buscam análises sobre autoritarismo no contexto digital global (além dos EUA). Tópicos de interesse incluem informação digital e democracia, guerra digital e culturas de resistência online. Envie título e resumo (150-250 palavras) até 16 de maio para kylie.jarrett1@ucd.ie (Escola de Estudos de Informação e Comunicação, University College Dublin). Prazo final para submissão: 1º de julho de 2025.
Na cabeceira
Dicas de leitura e do que fazer com o controle remoto e outros dispositivos
Livro do mês – 1
Políticas do encanto: a extrema-direita e fantasias de conspiração
De: Paolo Demuru
Ed. Elefante | São Paulo | 2024
R$ 55,0
“Toda era tem seu paradoxo. O da nossa é oscilar entre dois choques: um choque de realidade e um choque de fantasia. […] Fatos como a pandemia, os genocídios, o aquecimento global, entre outros, foram e seguem sendo negados. A eles sobrepôs-se uma teia de narrativas fantásticas sobre a ‘verdadeira realidade’ do mundo, à qual poucos eleitos teriam acesso. Fábulas conspiratórias de todo tipo rondaram o começo dos anos 2020 […]. A disseminação se deu com uma velocidade jamais vista na história. Penetração e rapidez que se devem, sobretudo, às mídias sociais, principais fábricas e repositórios dessas teorias...” afirma, no começo do seu livro “Políticas do encanto...”, o doutor em semiótica pela Universidade de Bologna, Itália, e em semiótica e linguística geral pela Universidade de São Paulo, Paolo Demuru, que também é docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie e pesquisador do Centro de Pesquisas Sociossemióticas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Demuru propõe nesta publicação uma estratégia de enfrentamento da questão do extremismo e sua propagação algorítmica, que conta com a adesão das plataformas de mídias sociais e da “nata do conservadorismo internacional”, a qual chama de “reencantamento”, partindo do pressuposto de que é necessário que as forças progressistas parem de apostar no “menos pior” e busquem compreender os anseios das pessoas radicalizadas, oferecendo-lhes, em contraponto, motivação para que reencontrem ideais políticos realmente emancipatórios. Como diz o escritor Julian Fuks, autor do texto da orelha do livro, explicando porque o livro é essencial no momento em que vivemos: “...trata-se de uma obra corajosa e inteligente, que devassa numa centena de páginas um fenômeno vasto, transnacional, mas que também observa os meandros da história de um país, deste Brasil convulsivo em que nos coube viver na última década. Desde o princípio, Demuru sabe e revela que não está se deparando com um fenômeno simples, que o objeto de sua atenção encarna o próprio paradoxo de nossa época”.
Uma excelente oportunidade de preparação e reflexão sobre como enfrentaremos as próximas eleições para a presidência da República aqui no Brasil.
Vídeos do mês
Formação Filmes que ensinam - “Educação Midiática e Cultura Digital: 10 filmes para pensar o papel da tecnologia na escola”
Série de vídeos do projeto CurtaEnem
“Educação Midiática e Cultura Digital: 10 filmes para pensar o papel da tecnologia na escola” é uma coleção de 10 filmes/documentários selecionados pela professora Sílvia Bahia, considerada uma referência nacional em temas como inclusão digital, diversidade tecnológica e justiça racial e de gênero no campo das tecnologias. Ela realizou esta curadoria para ministrar a terceira aula da formação “Filmes que ensinam”, do Canal CurtaENEM, por considerá-los essenciais para refletir sobre mídia, tecnologia e formação crítica de educadores, público-alvo desta formação.
A coleção reúne filmes que abordam temas como cibercultura, inteligência coletiva, impactos das redes sociais, exclusão digital e a influência da inteligência artificial nas relações humanas e sociais. Por meio dos documentários – estrelados por algumas das maiores referências mundiais nos temas, como o sociólogo Pierre Lèvy, o historiador Robert Darnton e o filósofo Paulo Virilio - os professores são convidados a refletir criticamente sobre o papel das mídias na formação de cidadãos digitais, para que possam desenvolver estratégias que lhes permitam formar estudantes críticos em meio à desinformação, ao excesso de estímulos e à lógica algorítmica das plataformas digitais.
O curso é online e gratuito e os filmes também podem ser vistos mediante a inscrição para o curso, que pode ser feita pelo link: https://curtaenem.org.br/filmes-que-ensinam. A aula de Silvana Bahia será realizada no dia 12/05/25, às 19 horas, mas poderá ser acessada posteriormente pelo YouTube, assim como as outras sete aulas que compõem a formação.
Livro do mês – 2
Para entender (quase) tudo sobre o clima
Organização BonPote; Anne Brès; Claire Marc
Ed. Sesc São Paulo | São Paulo | 2024
R$ 60,00
Um livro para entender a questão multifacetada das mudanças climáticas. Este assunto, que tem mobilizado corações e mentes ao redor do mundo, e que tem sido bombardeado de desinformações e fake news de toda sorte, requer uma abordagem mais acessível para que o grande público possa compreendê-lo em sua complexidade. Com este objetivo, o Instituto nacional das ciências do universo do Centro nacional de pesquisa científica (CNRS) francês reuniu diversos especialistas em ciências naturais, dentre eles um divulgador científico acostumado com a linguagem e os mecanismos da web, e uma mediadora científica especialista em síntese gráfica para dar conta - de uma maneira simples, didática e bastante atraente - de mostrar as diversas visões sobre este tema, bem como de suas consequências políticas, sociais, econômicas e ambientais.
As Edições Sesc São Paulo traduziram esta obra que está organizada em dezenove perguntas (ou capítulos), todas ilustradas com imagens lúdicas, que conseguem tornar compreensíveis informações técnicas e científicas sobre a ciência do clima. “Com o intuito não apenas de lançar luz ao tema, o livro propõe um debate que deve se expandir para além do espaço digital; ele é o resultado do encontro entre comunicação e ciência, para que a nossa geração tome atitudes para mitigar seus impactos e vislumbrar novas perspectivas”, diz o texto de apresentação da publicação no site da editora, onde é possível encontrar trechos do livro disponíveis para degustação.
Ótima opção para uma preparação para a COP 30, a reunião anual da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), que será realizada este ano aqui no Brasil.
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