Informativo JDL n. 27 | Jan-Fev-Mar 2024
Olá, sejam muito bem-vindas, bem-vindos e bem-vindes à primeira edição do Informativo JDL de 2024!
Essa é a newsletter do grupo de pesquisa Jornalismo, Direito e Liberdade, vinculado à Escola de Comunicações e Artes da USP e ao Instituto de Estudos Avançados da USP. Aqui você encontra um balanço das nossas atividades, publicações do grupo nos últimos meses, além de eventos, oportunidades acadêmicas e dicas culturais ligadas aos nossos temas de pesquisa. Boa leitura!
Estamos falando sobre…
Digitalização e desinformação
Iniciamos o ano discutindo o tema central de nosso novo programa de pesquisa: as relações dos fenômenos da digitalização, da datificação e da desinformação com o jornalismo e suas áreas de interface, como a informação, a comunicação e as artes.
Neste ano queremos compreender as lógicas fundantes desses fenômenos e em que medida elas vêm transformando o jornalismo e suas interfaces, enquanto áreas de conhecimento e enquanto instituições e profissões basilares das democracias.
Outro objetivo nosso é, diante desse diagnóstico do que estamos denominando “ordem desinformativa”, identificar os princípios normativos que vem sendo violados por ela, e as adaptações e renovações exigidas para garantir a continuidade dessas áreas tão importantes para sociedades democráticas. Conheça mais detalhes de nosso programa de trabalho apresentado ao Instituto de Estudos Avançados aqui.
Nosso primeiro encontro do ano ocorrerá em abril na USP, com data, hora e local a serem definidos em breve. Teremos a presença do professor Massimo de Felice, líder do grupo de pesquisa Átopos, do Departamento de Turismo, relações públicas e publicidade da Escola de Comunicações e Artes da USP, que tratará dos conceitos de digitalização e datificação e as transformações epistêmicas e normativas nas áreas da comunicação. Fique de olho em nossos perfis para saber mais sobre esse primeiro encontro.
Atividades de fevereiro e março
Novidades da gestão do JDL
As pesquisadoras, professoras e doutoras em comunicação Magaly Prado e Nadini Lopes assumiram a vice coordenação do JDL no início deste ano, com a perspectiva de dinamizar a gestão do grupo entre suas atividades de pesquisa, difusão e extensão.
Magaly Prado é doutora em comunicação e semiótica e mestre em tecnologias da inteligência e design digital, ambos programas pela PUC-SP. É pesquisadora visitante no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo e também trabalha na Rádio USP. Atualmente estuda a arquitetura de modelo de rede neural baseada no componente Transformer AI, como o formato large language model (LLM) na comunicação informativa.
Nadini Lopes é mestra e doutora em ciências da comunicação pela ECA-USP, sendo o doutorado com cotutela pela Universidade do Porto. Atua com comunicação institucional no setor de tecnologia, e tem trabalhado cada vez mais com temas de interseccionalidade no jornalismo e na comunicação, como desinformação de gênero e violência de gênero na política.
Novo integrante do JDL alia o jornalismo à antropologia
Alex Sander Alcântara é jornalista formado pela Universidade Federal de Sergipe, onde atuou como professor substituto. Possui mestrado e doutorado pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Participa do Núcleo de Antropologia Urbana (NAU), de Departamento de Antropologia da USP. Também é membro da comissão editorial da revista Ponto Urbe, ligada ao NAU e ao Departamento.
Defendeu em 2023 a tese de doutorado “De Passagem: a etnografia como método de observação para contextos socioculturais na reportagem”, na qual aponta alguns equívocos em pesquisas na área do jornalismo que utiliza o método etnográfico. Articula teoria e prática, aplicando à pesquisa três perspectivas de apreensão de contextos – De perto, De longe e De Passagem –, categorias testadas na reportagem, presente na tese, sobre o viaduto João Goulart, o Minhocão.
No projeto de pós-doutorado, pretende aprofundar as confluências entre Jornalismo e Etnografia, com foco nas discussões sobre o “tempo” de produção do trabalho do antropólogo e do jornalista, tendo como contexto a crise estrutural no Jornalismo.
Eugênio Bucci é o convidado do Roda Viva
Em janeiro, o professor Eugênio Bucci esteve no centro do Roda Viva, da TV Cultura. O jornalista, pesquisador e integrante do JDL foi entrevistado por Alecsandra Zapparoli, publisher da Galápagos Newsmaking, Dennis de Oliveira, jornalista e professor da ECA/USP, Katia Brembatti, presidente da Abraji, Natália Viana, diretora-executiva da Agência Pública de Jornalismo Investigativo, e Pablo Ortellado, professor de Gestão de Políticas Públicas da USP.
Durante o programa, Bucci respondeu sobre regulamentação das redes sociais e responsabilização das Big Techs, falou sobre jornalismo de opinião e debateu um modelo de comunicação pública ideal para o Brasil. Esses e outros temas podem ser conferidos na íntegra aqui:
Na academia e na imprensa
Publicações de pesquisadoras e pesquisadores do JDL
A pesquisadora Magaly Prado abordou os impactos dos softwares de inteligência artificial generativa na educação e na cultura informativa em artigo publicado pelo Observatório da Imprensa e pelo Jornal da USP. A autora percebe cenários interessantes e positivos para o uso das Large Language Models (LLMs) como ferramenta “para realizar tarefas simples ou técnicas”. No entanto, Prado afirma que é importante “manter ligado o alerta de que grandes modelos de linguagem ainda possuem dificuldades para manter a consistência”.
As transformações e instabilidades do universo informacional impostas pela Inteligência Artificial são tema do artigo “O homem na máquina”, escrito pelo pesquisador Tiago C. Soares e publicado pelo Observatório da Imprensa. Soares reflete sobre a tentação de “deixar com as máquinas, tão bem treinadas, a missão de chegar às respostas necessárias” e argumenta que a Inteligência Artificial é uma ação articulada entre o indivíduo e a máquina. Nessa dinâmica, portanto, o homem também está imbricado.
A pesquisadora Januária Cristina Alves escreveu sobre os benefícios da leitura para a formação crítica do público infantil como estratégia de educação midiática e enfrentamento da desinformação do mundo digital. “O perigo de ver tudo enquadrado (ou em quadrados)” foi publicado pelo Nexo Jornal. Alves conta que “estamos assistindo cada vez mais os cientistas, pesquisadores e educadores chamarem a atenção para a leitura como um porto seguro onde ainda é possível ancorar a formação de nossas crianças e jovens com segurança e ao mesmo tempo com liberdade, autonomia e criatividade, favorecendo a sua experimentação de múltiplos olhares e vivências.”
A repórter especial da Folha de S. Paulo e pesquisadora Laura Mattos publicou uma série de reportagens sobre a decisão de escolas particulares em São Paulo de proibir o uso de celular pelos alunos durante as aulas. As restrições se alinham com a posição da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) que publicou um relatório no ano passado em que alerta que são escassas as evidências de impacto positivo do uso do celular na educação. As três reportagens publicadas são: “Escolas fecham o cerco a uso do celular e aumentam proibição na volta às aulas”; “Escola de SP adota pochetes que trancam celular dos alunos”; “Pais de alunos do Vera Cruz pedem proibição do celular na escola em SP”.
A jornalista e pesquisadora Luciana Moherdaui analisou a resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que proibiu o uso de deepfakes e restringiu chatbots e avatares para intermediar a comunicação de campanhas políticas na eleição de 2024. O artigo “Norma das eleições do TSE é falível diante do mar de fakes” foi publicado no portal Poder 360.
O pesquisador Bruno Henrique de Moura e o promotor do Ministério Público de Minas Gerais e doutorando em direito pela Universidade de São Paulo Sérgio Brito Ferreira recuperaram as origens históricas da justiça militar no artigo “Das origens da justiça castrense”. O texto está disponível na Revista Científica O Direito Pensa, da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
O jornalista e pesquisador Sérgio Quintanilha lança o livro “O automóvel e seus sentidos mutantes” (Fontenele Publicações) na Livraria Mandarina, em São Paulo, no dia 22 de março. A obra é uma versão reduzida da tese de doutorado defendida pelo autor na Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP). Quintanilha pesquisou as transformações no significado do automóvel ao longo de mais de um século. O prefácio é do orientador da pesquisa, Eugênio Bucci.
Novidades
Leituras de referência indicadas pelo JDL
A revista Brazilian Journalism Research publicou o dossiê Jornalismo Militante, Ativista e de Combate, que reúne 10 artigos e um ensaio que articulam a militância, o engajamento e o ativismo às mais celebradas, exigentes e nobres práticas jornalísticas. “É possível um jornalismo ativista?” e “sobre que militantes estamos falando?” são algumas das questões elencadas pelos autores nos trabalhos que compõem o dossiê.
No dia em que os ataques antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 completaram um ano, a revista Mídia e Cotidiano da Universidade Federal Fluminense publicou o dossiê Autoritarismo e Mobilização On-line: polarização, radicalização, normalização. A seção temática da edição contém sete artigos que trazem contribuições valiosas para compreender diferentes aspectos do cenário político atual. Radicalismo e religião, negacionismo, discurso de ódio e affordances das plataformas são alguns dos temas debatidos pelos autores.
Outro dossiê publicado recentemente foi o Disinformation for Hire as Everyday Digital Labor, que aborda, em oito artigos, as interfaces da desinformação e do trabalho, destacando as transações comerciais, lógicas organizacionais e práticas empreendedoras que impulsionam a produção de desinformação ao redor do mundo.
Agende-se!
Eventos e oportunidades acadêmicas
Destaque do ISOJ
O 25º Simpósio Internacional de Jornalismo Online (ISOJ), de 12 a 13 de abril de 2024, será online e presencial na Universidade do Texas em Austin. As inscrições já estão abertas e a programação e a lista de palestrantes estão disponíveis. Entre elas, destacamos:
Regulamentação das mídias sociais, mudanças nos direitos autorais, subsídios governamentais: como as novas políticas podem afetar o jornalismo?
Presidente: Anya Schiffrin, diretora de tecnologia, mídia e comunicações, Columbia University
Jeff Jarvis, professor de inovação em jornalismo, Newmark Graduate School of Journalism
Amy Mitchell, diretora executiva fundadora, Centro de Notícias, Tecnologia e Inovação, CNTI
Victor Pickard, professor e codiretor do Media, Inequality & Change Center, Universidade da Pensilvânia
Steve Waldman, fundador e presidente, Rebuild Local News
O ISOJ é um programa do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas da UT Austin.
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Vaga para professor em Cultura Digital
A Universidade de Bergen está contratando um professor associado em Cultura Digital e procura uma pessoa com experiência em pesquisa em métodos digitais e abordagens etnográficas para pesquisar a cultura digital contemporânea. Encorajam os estudantes em início e meio de carreira a se inscreverem – com doutorado, mas ao avaliar as candidaturas, a ênfase estará nos últimos cinco anos para torná-lo mais justo para os estudantes em início de carreira.
Prazo de inscrição: 1º de abril. Acesse mais informações
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Inscrições para IAMCR
Estão abertas as chamadas de trabalhos e inscrições das dez pré-conferências da Associação Internacional de Pesquisa em Mídia e Comunicação (International Association for Media and Communication Research – IAMCR). O intuito dos eventos é preparar as comunidades de pesquisa de todo o mundo para a conferência anual IAMCR 2024, que será realizada de 30 de junho a 4 de julho na Universidade de Canterbury, em Ōtautahi Christchurch, na Nova Zelândia.
Envio de resumo de 200 a 300 palavras, indicando os temas e o painel do qual pretendem participar, até 31 de março.
Saiba mais sobre as pré-conferências da IAMCR 2024
Na cabeceira
Dicas de leitura e do que fazer com o controle remoto e outros dispositivos
Livro do mês – 1
A Fábrica de Cretinos Digitais: o perigo das telas para nossas crianças
Michel Desmurget
Ed. Vestígio – São Paulo - 2021
R$ 79,80 | R$ 55,90 (e-book)
No calor das discussões ao redor do mundo se os celulares devem ou não entrar nas escolas, além de todo o esforço para a regulação das plataformas digitais enfocando a necessidade de se proteger crianças e jovens dos perigos que existem por ali, o livro do diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França, Michel Desmuget, não deixa dúvidas a que veio: apresentar, de maneira didática e contundente, uma primeira síntese de vários estudos que confirmaram os perigos reais das telas, fazendo um alerta para as graves consequências de continuarmos a promover, sem senso crítico, o uso dessas tecnologias. Para ele “... quando o arsenal de telas disponíveis hoje em dia (tablets, computadores, videogames, smartphones, etc.) é disponibilizado para as crianças e adolescentes, suas práticas não se orientam no sentido de utilizações mais nitidamente positivas, mas no sentido de uma farra de utilizações recreativas das quais a pesquisa revela irrevogavelmente um caráter nocivo. Uma coisa é certa: se as crianças e os adolescentes concentrassem suas práticas naquilo que o digital oferece de mais positivo, o presente livro não teria razão alguma de existir”.
Voltado mais especialmente para as famílias e as escolas, o livro de Desmurguet traz, além de resultados das pesquisas, alguns conselhos práticos de como lidar com as telas, orientando pais e educadores a propiciar que seus educandos possam fazer um uso positivo desses artefatos digitais. A pesar do título “forte”, disparando que as telas contribuem para que tenhamos “cretinos digitais”, o neurocientista não demoniza seu uso, acreditando que é possível promover uma “conscientização saudável” em relação a isso. Leitura importante também para todos nós, que lidamos com as telas no nosso cotidiano.
Podcast do mês
Autoritários
Podcast da Folha de S.Paulo
Disponível gratuitamente no Spotfy
Autoritários é um podcast narrativo do jornal Folha de S. Paulo, produzido com o apoio do Pulitzer Center on Crisis Reporting, que investiga líderes autoritários contemporâneos que ameaçam a democracia e as conexões entre eles. A repórter Ana Luiza Albuquerque viajou para seis países para ouvir as histórias das vítimas do autoritarismo e entender por que a democracia entrou em crise. Há oito anos no jornal, Ana Luiza trabalha na editoria de política e é mestre em jornalismo político pela Universidade Columbia (EUA).
A cada semana um novo capítulo enfoca um líder autoritário contemporâneo que tem colocado a democracia em risco: Narendra Modi (Índia), Viktor Orbán (Hungria), Donald Trump (Estados Unidos), Jair Bolsonaro (Brasil) , Nayib Bukele (El Salvador) e Daniel Ortega (Nicarágua). O primeiro episódio “Modi e o nacionalismo hindu na Índia” conta as histórias de três pessoas que foram vítimas do autoritarismo na mesma época, em três países diferentes. Também discute com especialistas possíveis causas para a nova crise democrática e como ela se difere das anteriores.
Em um ano em que, de acordo com o Center for American Progress, mais de 2 bilhões de eleitores em 50 países irão às urnas, é fundamental refletir sobre as causas e consequências de se colocar a democracia em risco com a eleição de líderes autoritários como estes retratados nesse projeto.
Livro do mês – 2
Os filhos da Coruja
Graciliano Ramos
Pinturas de Gustavo Magalhães
Baião Livros, São Paulo - 2024
R$ 66,90
Esse ano a obra de Graciliano entrou em domínio público e teremos diversos lançamentos e relançamentos de livros que são clássicos da literatura brasileira como “Vidas Secas” ou “Angústia”, por exemplo, e outros inéditos ou publicados sob pseudônimo, como é o caso de “Os filhos da Coruja”, lançado pela primeira vez em 1923 e assinado por J. Calisto, um de seus pseudônimos.
A Baião Livros é o selo infantojuvenil da Editora Todavia e tem publicado textos “para as infâncias” no sentido mais amplo da expressão, aquele que entende que há múltiplas infâncias e por isso, diferentes leituras possíveis para esses textos. Nesse sentido, o poema “Os Filhos da Coruja” cumpre essa função: permitir diversas interpretações e leituras para esse texto que Graciliano escreveu inspirado na fábula de La Fontaine “A águia e o mocho”. A história do encontro de um gavião, uma coruja e seus três filhotes é contada de maneira bastante original por Graciliano, que nessa versão – que já havia sido recontada por Monteiro Lobato, por exemplo – não poupa o leitor do seu fim trágico, o qual arremata, no final: “Tu és sempre coruja e os outros homens são gaviões”. A edição primorosa do livro, que conta com pinturas do artista Gustavo Magalhães e projeto gráfico de Luciana Facchini, convida o leitor a escolher como deseja seguir a leitura, trazendo o poema completo em um encarte no miolo. Todos esses recursos não só atualizam a história para os nossos dias, mas confirmam a potência de um autor que sempre soube ser crítico e contemporâneo a um só tempo. Leitura imprescindível para todas as idades, seja ela compartilhada com as crianças ou não.
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Conheça mais sobre o JDL em nosso site oficial, e em nossa página no site do IEA - Instituto de Estudos Avançados da USP.
Até a próxima edição!