Olá! Sejam muito bem-vindes à 19a edição de nosso Informativo JDL. Por aqui você encontra uma série de informações sobre as atividades e produções do grupo de pesquisa Jornalismo, Direito e Liberdade da ECA/IEA-USP, recomendações de leitura, pesquisa, eventos e oportunidades acadêmicas, além de dicas de entretenimento relacionadas aos nossos temas de pesquisa.
Neste mês, apresentamos nossas atividades do mês de março, além dos eventos previstos em abril. Em função da urgência do problema, discutiremos os extremismos violentos em escolas e suas relações com o jornalismo e as mídias digitais. Este tema será tratado em nosso próximo seminário, a ser realizado virtualmente no dia 26 de abril, das 14-16h30, com a gravação posteriormente disponibilizada em nosso canal.
Estamos falando sobre…
Extremismos violentos em escolas e relações com o jornalismo e as mídias digitais
A sociedade brasileira, historicamente constituída por diversas formas de violência, passou a reproduzir nas últimas duas décadas uma expressão singular de extremismo violento, os ataques e massacres em escolas. Além de manifestações de luto público e solidariedade às famílias das vítimas, e da atuação de órgãos policiais e judiciais para reprimir, investigar, processar e julgar os crimes, diversas instituições e atores sociais têm buscado compreender o fenômeno e desenvolver ações e políticas de prevenção a esse tipo de extremismo violento. No que tange às áreas do Jornalismo e da Comunicação, precisamos nos perguntar quais as características dos extremismos atuais e suas relações com as mídias digitais e com o jornalismo profissional, e em que medida iniciativas de regulação e autorregulação podem contribuir para amenizar o problema. Mais ainda, devemos mobilizar essas áreas para fomentar iniciativas de prevenção às culturas de ódio e aos extremismos violentos contra escolas e outras instituições e grupos sociais.
Para discutir essas questões, o grupo de pesquisa Jornalismo, Direito e Liberdade (JDL, ECA/IEA-USP) convida Michele Prado, pesquisadora do Monitor do Debate Público Digital e autora dos livros “Tempestade Ideológica – Bolsonarismo: a alt-right e o populismo iliberal no Brasil” (2023); Laura Mattos, jornalista da Folha de S. Paulo, pesquisadora do JDL e autora do livro “Herói Mutilado: Roque Santeiro e os bastidores da censura à TV na ditadura” (2019); e Januária Cristina Alves, educomunicadora, pesquisadora do JDL e autora da obra “Xô, Fake News: uma história sobre verdades e mentiras” (2021).
O evento ocorrerá no dia 26 de abril de 2023, das 14-16h30 e será online, com participação restrita a membros do grupo. A gravação será posteriormente divulgada no canal do grupo.
Diálogo sobre Hannah Arendt e o Totalitarismo
O professor Eugênio Bucci, co-fundador do JDL, dialogará sobre Hannah Arendt e o Totalitarismo com Celso Lafer, professor emérito da USP e ex-Chanceler, conhecido por ter sido aluno da filósofa e por disseminar seu pensamento no Brasil . O evento é a primeira edição da série de encontros intitulada “Papo-Cabeça”, a ocorrer no dia 17 de abril, às 19h30, no Clube Hebraica, em São Paulo. Mais informações no telefone: (11) 3818-8888.
Atividades do mês de março
Mesa redonda “Violência contra Jornalistas no Brasil: diagnósticos e caminhos para a proteção”
O aumento da violência contra jornalistas foi o tema do primeiro debate promovido em 2023 pelo grupo de pesquisa JDL. Norian Segatto, do Departamento de Saúde da FENAJ, apresentou dados do Relatório de Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil da FENAJ. Em 2022, foram registrados 77 casos de ameaças, hostilizações e intimidações contra jornalistas no país, um crescimento de 133% em comparação ao ano anterior. Em seguida, Diego Pegorario, articulador da Rede Nacional de Proteção a Jornalistas e Comunicadores pelo Instituto Vladimir Herzog, apresentou mais dados sobre violência contra jornalistas e comunicadores, destacando que as situações se agravam longe dos grandes centros urbanos. Destacou também que apesar das ambivalências, a atenção jurídica e psicológica, além da divulgação de ameaças contra comunicadores e jornalistas, tem fortalecido sua proteção. Por fim, a professora Daniela Osvald Ramos traçou um panorama histórico da violência contra jornalistas e contra a informação no Brasil, passando das censuras régias e das ditaduras do século XX para chegar na proposição de que estamos diante uma violência cultural que é reproduzida dentro do Estado e da sociedade, e é alimentada pelos extremismos atuais, marcados por crimes de ódio e traços de terrorismo.
A gravação da íntegra do evento está disponível no canal do Instituto de Estudos Avançados da USP no YouTube.
Publicações e eventos relembram os 50 anos do assassinato de Alexandre Vannucchi Lemos
O professor de Jornalismo da Cásper Líbero e pesquisador do JDL Camilo Vannuchi tem liderado uma série de iniciativas para rememorar o assassinato sob tortura do estudante de geologia Alexandre Vannucchi Lemos durante a ditadura militar, primo de seu pai, o ex-ministro dos Direitos Humanos Paulo Vannuchi. Além de ato na Faculdade de Direito da USP e mobilização para uma missa na Catedral da Sé no aniversário do assassinato, Vannuchi está concluindo a obra “Eu Só Disse o meu Nome”, já em pré-venda pela editora Discurso Direto (R$73,00). Em março, Camilo Vannuchi escreveu para o jornal da USP sobre os 50 anos do assassinato de Alexandre, destacando em outros artigos o número de pessoas vinculadas à USP que foram assassinadas durante o regime e o legado de Alexandre para a universidade e seus alunos. Ele também publicou um relato emocionante em sua coluna fixa no UOL. Além disso, uma série de reportagens publicadas em diferentes veículos buscaram recuperar a história de Alexandre Vannucchi Lemos, como essa matéria do G1.
JDL representado no projeto Safety Matters
O doutorando Victor Vicente, filiado ao grupo Jornalismo, Direito e Liberdade (JDL), integrou no último semestre o projeto internacional “Safety Matters - research and education on the Safety of Journalists”. O objetivo do projeto de pesquisa é investigar e contribuir para a melhoria da segurança dos jornalistas, facilitando pesquisadores a utilizar ferramentas analíticas e práticas necessárias para investigar, compreender e melhorar a segurança dos jornalistas em um cenário transnacional de insegurança política e física, em constante evolução. Neste período, Victor Vicente desenvolveu uma pesquisa comparativa sobre as relações entre a prática do jornalismo e o assédio judicial. O estudo, intitulado “Write or Fight: SLAPPs against journalists in Brazil, the United States, and Spain", analisou diferentes táticas de assédio judicial, tratados como Ações Estratégicas Contra a Participação Pública (SLAPPs), no Brasil, Espanha e Estados Unidos, e será apresentado na conferência IAMCR, que acontecerá em Lyon em julho de 2023. Saiba mais sobre o projeto no banco de projetos do Research Council of Norway.
Na Academia e na Imprensa
Publicações de pesquisadoras e pesquisadores do JDL
Integrantes do grupo de pesquisa JDL publicaram artigos com reflexões sobre a cobertura da imprensa nos casos de violência registrados em escolas. Na Folha de S. Paulo, Laura Mattos abordou a mudança de postura de diversos veículos de comunicação que decidiram deixar de publicar o nome dos agressores, imagens dos crimes e detalhes dos ataques. A decisão se baseia em pesquisas acadêmicas que indicam que o conteúdo pode incentivar jovens suscetíveis a cometer crimes semelhantes. O texto foi republicado pelo site Acessa.com.
A violência o extremismo disseminados por grupos online foram temas de uma reportagem da jornalista d’O Estado de S. Paulo e integrante do JDL, Luciana Garbin. A autora alerta para o fato de que conteúdos da subcultura do ódio circulam abertamente em plataformas como Twitter, Instagram, TikTok, Discord, Reddit e outras. A pesquisadora Michele Prado, ouvida na reportagem, afirma que faltam centros brasileiros de pesquisa específicos no campo de estudo de radicalização, extremismo e terrorismo. O texto está disponível para assinantes do Estadão.
O professor da ECA/USP e membro do JDL, Eugênio Bucci, em artigo publicado no jornal O Estado de S.Paulo argumenta que os algoritmos do mundo digital jogaram a humanidade em novo tipo de totalitarismo. Nos nossos dias, “o medo dominante é o medo da invisibilidade”. Para o professor, o desejo se manifesta como um “arrebatamento imperioso que leva um adolescente a matar e morrer em troca de um instante de holofote sobre o seu nome e sua fotografia”. O texto foi republicado pelo portal A Terra é Redonda.
O combate à desinformação ganhou o reforço de um novo podcast, o “Curti, e Daí?”. O projeto tem três integrantes do grupo de pesquisa JDL: Januária Alves e Laura Mattos na apresentação e Victor Vicente na equipe de criação. O trabalho é feito em parceria com o Instituto Vero. São cinco episódios que colocam em debate a relação dos jovens, protagonistas da série, com as redes sociais.
A integrante do JDL, Luciana Moherdaui, argumenta que é preciso revisitar as propostas para que as grandes empresas de tecnologia, as big techs, remunerem veículos de comunicação. O assunto foi tema de um artigo no portal Poder 360. Luciana conta que Austrália, Grã-Bretanha, Espanha e Canadá propuseram leis para obrigar as empresas digitais a pagar pela exibição de conteúdo de sites jornalísticos em mecanismos de busca e em plataformas sociais.
Novidades
Leituras de referência indicadas pelo JDL
A segurança dos jornalistas na América Latina foi tema do artigo “Blurred Boundaries of Journalism to Guarantee Safety: Approaches of Resistance and Resilience for Investigative Journalism in Latin America” publicado na Journalism Studies. Por meio de entrevistas em profundidade, os pesquisadores brasileiros Lucia Mesquita e Mathias Felipe investigam como os profissionais de veículos de pequeno e médio porte podem exercer suas funções com maior segurança e quais medidas de segurança estão sendo adotadas. Além disso, os autores refletem sobre as implicações dessas medidas para os limites do jornalismo. https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/1461670X.2023.2185078
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) divulgou, no fim de março, o relatório “Monitoramento de ataques a jornalistas no Brasil”, que sistematiza e formaliza os dados de ataques contra a imprensa em 2022. De acordo com o levantamento, as agressões aumentaram 23% em 2022, chegando a 557 episódios. A Abraji também destacou o papel de agentes estatais, como parlamentares, governantes e funcionários públicos nas agressões. Em 41,6% dos casos, há ao menos um integrante da família Bolsonaro envolvido. Leia aqui: https://abraji-bucket-001.s3.sa-east-1.amazonaws.com/uploads/publication_info/details_file/4d6cb1b2-ca1a-4d7b-9c7b-1edcea1bb294/ABRAJI_Monitoramento_de_ataques_a_jornalistas_no_Brasil_2022__PT_.pdf
Pesquisadores identificaram que, ao contrário de criarem filtros-bolha, as plataformas digitais homogeneizam a recomendação de notícias nos mecanismos de buscas, pelo menos entre os principais resultados. A pesquisa analisou as recomendações feitas pelo Google, Google News, Facebook, YouTube e Twitter para 1.598 americanos que possuíam ideologias diferentes. O artigo também mostra que cada plataforma prioriza diferentes tipos de conteúdo e com notícias profissionais são mais dominantes em algumas plataformas, mas não em outras. Outro destaque é que veículos politicamente conservadores como a Fox News sendo particularmente recorrentes. More of the Same? Homogenization in News Recommendations When Users Search on Google, YouTube, Facebook, and Twitter: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/15205436.2023.2173609?scroll=top&needAccess=true&role=tab
Conteúdo negativo engaja mais que menções positivas. Esse é o principal achado do artigo “Negativity drives online news consumption”. Nele, os pesquisadores realizaram uma série de ensaios com um conjunto de dados de aproximadamente 105.000 variações diferentes de notícias. Como resultado, percebeu-se que cada palavra negativa em um título aumentou, em média, a taxa de cliques em 2,3%. https://www.nature.com/articles/s41562-023-01538-4
Agende-se!
Eventos, chamadas e oportunidades em nossa área
Publicações (chamadas abertas):
1. Sur le journalisme, About journalism, Sobre jornalismo
Deadline: 31/05
https://revue.surlejournalisme.com/slj
2. Handbook of Social Media, Law and Society
Deadline: 02/10/2023
https://www.open.ac.uk/ovaw-observatory/sites/www.open.ac.uk.ovaw-observatory/files/files/SM%20Handbook%20CFP%20(March%202023).pdf
Eventos (CFP aberto):
1. ICEGOV
Deadline: 13/04
https://www.icegov.org/
2. Conference on Equity and Access in Algorithms, Mechanisms, and Optimization
Deadline: 10/05/2023
https://eaamo.org/cfp/
3. Internet Governance Forum
Deadline: 19/05/2023
https://www.intgovforum.org/en/content/igf%C2%A02023-call-for-session-proposals
4. SIGCIS 2023
Deadline: 01/06/2023
https://meetings.sigcis.org/call-for-participation.html
Na Cabeceira
Dicas de Leitura e do que fazer com o controle remoto (e outras telas)
Livro do mês – 1
Latim em pó: um passeio pela formação do nosso português
Caetano W. Galindo
Companhia das letras, 2022, 232 p., R$ 59,90
Um livro essencial para todos nós que ouvimos, falamos e escrevemos em português. O “Latim em pó”, de Caetano Galindo, dá conta de explicar não apenas como surgiu o idioma que usamos em nosso cotidiano, mas sobretudo, porque, derivado de tantas outras línguas, se constituiu como preponderante em um país tão grande e que possui um povo tão multifacetado. Como ele mesmo faz questão de explicitar nos capítulos iniciais do livro “Esse idioma forma nosso mundo de maneiras tão profundas e incontornáveis que talvez, sem ajuda, a gente nunca chegue a parar de verdade para pensar sobre ele. Mas podemos tentar”. Professor, tradutor, pesquisador e escritor Caetano W. Galindo nos instiga a viajar com ele pelos caminhos pelos quais o português passou para compreendermos as razões pelas quais a nossa língua expressa profundamente nossa identidade sociocultural.
Como afirma a escritora Noemi Jaffé que recomenda a leitura do livro: "Não contente em ser um dos melhores tradutores do país, Caetano Galindo também nos presenteia com uma das melhores leituras da nossa língua, sua história, seus aspectos e usos. Este livro é um passeio, uma navegação pelo português e pelo Brasil."
Podcast do mês
Podcast Rádio Novelo Apresenta
Episódio “Narradores não confiáveis”
Disponível gratuitamente no Spotify pelo link
A Rádio Novelo é a maior produtora de podcasts jornalísticos do país e já é conhecida do grande público pela série original “Praia dos ossos” ou pelo “Projeto Querino” que explica a história do Brasil a partir do ponto de vista dos afrodescendentes (já demos a dica aqui na newsletter!). Nesse episódio intitulado “Narradores não confiáveis”, produzido em parceria com a organização de Educação Midiática Redes Cordiais, a jornalista Carol Pires, responsável por outros podcasts de sucesso como “Retrato Narrado”, em que conta a trajetória política de Jair Bolsonaro, conversa com um criador de fake news profissional. Aqui podemos ouvir, literalmente em alto e bom som, detalhes sobre sua atividade. O entrevistado conta que o objetivo de quem as encomenda é criar dúvidas nos eleitores, muitas vezes a partir de fatos distorcidos, para inspirar sentimentos como raiva e indignação. Ele ainda dá detalhes sobre como a distribuição da desinformação acontece em grupos de mensagens e redes sociais, por meio de robôs. Se alguém ainda tem dúvidas sobre a natureza e os objetivos das fake news após a escuta atenta (e estupefata) desse episódio nunca mais as terá. Excelente fonte de inspiração para um trabalho de Educação Midiática em escolas e comunidades educativas.
Livro do mês – 2
A Máquina do Caos: Como as redes sociais reprogramaram nossa mente e nosso mundo
Max Fisher; tradução Érico Assis
Editora Todavia, 2023, 512 p., R$ 99,90
Como explicita o título do livro, trata-se de uma publicação de extrema importância para entendermos aquele que é considerado por muitos estudiosos “o maior experimento coletivo da humanidade”. As redes sociais estão no centro das atenções de todos nós: usuários, empresas, governos, instituições de diversas esferas. Isso porque têm se mostrado ferramentas potentes de disseminação de toda sorte de ideias, incluindo aí preconceitos, teorias conspiratórias, discriminação, discurso de ódio. Dessa forma, impactam a diretamente a nossa vida e as decisões que tomamos em nosso dia-a-dia. Portanto, é urgente compreender não apenas como funcionam, mas sobretudo como influenciam nossos modos de ser, agir e ver o mundo em que vivemos. É isso que o repórter investigativo Max Fisher se propõe ao longo das mais de 500 páginas que descortinam as redes sociais por meio de entrevistas com cientistas, delatores, políticos, teóricos da conspiração e outros personagens que habitam esse ecossistema.
Para ler e refletir sobre onde estamos enredados e buscar saídas sustentáveis e inteligentes para caminharmos com segurança nessa teia intrincada, já que não é mais possível nos mantermos fora dela.
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Agradecemos pela leitura e até a próxima edição!